Fradique Mendes
A «correspondência de uma abstracção»
 

Por carta de 23 de Maio de 1888, Eça de Queirós entregava a Oliveira Martins os primeiros escritos da Correspondência de Fradique Mendes, publicados no jornal O Repórter, de Lisboa:

«Se bem te recordas dele, Fradique, no nosso tempo, era um pouco cómico. Este novo Fradique que eu revelo é diferente – verdadeiro grande homem, pensador original, temperamento inclinado às acções fortes, alma requintada e sensível... Enfim, o diabo!»

Sucessivamente, em mais alguns periódicos durante o final de século (Revista de Portugal e A Ilustração, ambas directa ou indirectamente dirigidas por Eça), essa «correspondência de uma abstracção» foi dando «realidade, corpo, movimento, vida» a essa efabulada personagem que constitui um marco de modernidade no campo literário português, interrompendo-se com a morte do escritor, em 1900.
Mas, já então, trabalhava Eça de Queirós nas suas provas – «linguados» e «provas de página» que, juntos a recortes da anterior publicação em folhetins e com manuscritos intercalados (suportes que formam o conjunto de originais agora aparecido, ao fim de um século), os herdeiros do escritor deram à estampa naquele mesmo ano, em livro que os especialistas queirosianos designam por semipóstumo, à semelhança de A Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e as Serras, romances também rapidamente publicados.

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