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Folha de sala

 

Visitas guiadas

por João Alves Dias

/ dezembro '13
13: 15h30 / 17: 18h00
/ janeiro '14
14: 15h30

 

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Antes de Lineu: o mundo das plantas impresso na coleção da BNP

EXPOSIÇÃO | 4 novembro | 18h00 | Sala de Exposições | Entrada livre | até 25 janeiro 2014

 

A moderna taxonomia assenta no trabalho de sistematização levado a cabo no séc. XVIII por Lineu (1707-1778) que constitui, ainda hoje, um marco na história da ciência, e da botânica em particular, ao ponto de se poder falar no antes e no depois de Lineu. Já desde o séc. XVI, porém, que outros, como o português Garcia d’ Orta, desenvolviam esforços pioneiros de recolha e sistematização do conhecimento botânico.

 

Em 2013 completam-se 450 anos sobre a impressão de um dos mais importantes livros científicos, entre aqueles que foram produzidos no séc. XVI, no que às plantas diz respeito: Os Coloquios dos simples, e drogas e cousas medicinais da India, de Garcia d’Orta (Goa, 1563).

Quando Garcia d’Orta nasceu, os principais livros acerca das plantas eram ou filosóficos ou farmacopeicos: resultado de um saber prático. Os textos mais estudados e divulgados tinham largos anos – alguns, mesmo, mais de um milénio, como são os casos dos trabalhos de: Aristóteles, Teofrasto, Dioscórides, Caio Plínio. Esses trabalhos haviam sido, ao longo do tempo, comentados, ilustrados e precisados, porém, a base era sempre, ou quase sempre, a mesma. Muitas vezes não se sabia com exatidão qual era o simples de que se falava; qual era, com precisão, a correspondência entre as plantas da Europa Ocidental e as plantas da Europa Oriental. Não se conhecia a correspondência exata  com o termo grego, latino ou árabe que os diferentes autores utilizavam. Era, pois, pela prática que se chegava a uma conclusão.

Com as descobertas da imprensa e do mundo, a Europa passou a juntar ao saber prático o saber teórico e da observação. No que ao conhecimento botânico dizia respeito, as viagens de exploração, o conhecimento de novos simples, a formalização de novas drogas e de novos químicos depressa tornam obsoletos alguns dos conceitos apresentados nesses livros legados pelo passado.

É neste contexto que surge a obra de Garcia d’Orta cuja importância não passou despercebida no mundo científico contemporâneo à sua produção.

Anthoine Colin, mestre-farmacêutico de Lyon, que, em 1602, publicou a sua Histoire des drogues espisceries, et de certains medicamens simples, qui naissent és Indes, tant orientales, que occidentales – trata-se, na verdade, da compilação e tradução de seis tratados científicos de diferentes autores, um dos quais Garcia d’Orta, que é apresentado com o nome Garcie du Jardin –,  refere na advertência ao leitor:


«É um dever de franqueza reconhecer aqueles pelo meio dos quais se beneficiou, e é razoável que a honra lhes seja prestada. Pelo que, amigo leitor, mestre Garcia d’Orta (que foi cerca de 30 anos médico do vice-rei de Portugal) é o primeiro que com louvor foi pioneiro no conhecimento dos medicamentos nas Índias Orientais. Depois dele, Cristóvão da Costa escreve sobre o tema, mas de modo diferente (porque ele ficou restringido à pouca glória restante) de aumentar o seu volume pelos escritos do seu antecessor. Imitando-o, Nicolas Monardes (famoso médico de Sevilha) incluiu na parte oposta os seus desenhos sobre as Índias Ocidentais, com tal sucesso que ninguém até aqui ousou minorar esse mérito. Tendo todos três escrito nas suas línguas maternas, parecem ter  transmitido esse bem aos seus vizinhos, os quais ficariam privados dele sem a pena de Charles de L’Écluse d’Arras. Este douto personagem, tendo reconhecido a importante utilidade de uma tal obra, para a tornar mais familiar a todas as nações, traduziu-a para latim, usando porém mais a liberdade de autor do que a exigência do intérprete. Porque ele mudou e resumiu o estilo claro de Garcia d’Orta; ele cortou o que Cristóvão da Costa tinha acrescentado e esclareceu Monardes em muitos locais, embelezando o conjunto com meritosas e doutas observações. Deste modo, a sua fama correu mundo, assim como a dos primeiros autores que de outro modo teriam ficado confinados aos limites dos seus países.» (2.ª ed. Lyon, 1619, p. [5]).

 

Com o Renascimento teórico associado à nova capacidade descritiva chega-se ao saber científico, em que a Botânica deixa de ser encarada apenas como «matéria médica» e passa a ser, primordialmente, biológica, e em que os estudos têm já como objetivo a descrição e a classificação, no que constitui um primeiro passo para o reconhecimento da sexualidade das plantas.

 

A mostra foi organizada por João Alves Dias, do Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, e será complementada com um catálogo impresso.