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Bibliografia de Luís Amaro

por José Carlos Canoa

 



Luís Amaro - No 90.º aniversário

MOSTRA | 7 maio - 29 jun. | Sala de Referência | Entrada livre

SESSÃO | 13 maio | 18h00 | Auditório | Entrada livre

 

A mostra apresenta documentos manuscritos, impressos e iconográficos que ilustram a multifacetada atividade de Luís Amaro, como poeta, revisor literário, editor, bibliófilo, tradutor, ensaísta, memorialista, entre outras profissões ligadas ao livro, evocando os 90 anos do seu nascimento. Destaque para a correspondência trocada com alguns dos maiores escritores do séc. XX. 

 

luis_amaroAssinalando o nonagésimo aniversário de Luís Amaro, a BNP apresenta uma mostra documental da sua obra e atividade literária e uma sessão dia 13 com intervenção de Eugénio Lisboa.


Dum percurso nas letras iniciado aos 12 anos de idade, com um texto publicado na imprensa periódica em 1935, a mostra exibe obra impressa, documentação manuscrita e alguma iconografia. Destacando a atividade enquanto escritor e profissional de referência ao serviço da Portugália Editora e da revista Colóquio. Letras, os impressos dialogam com a correspondência trocada com alguns dos maiores escritores do seu tempo. As cartas recebidas que se exibem integram o Espólio que Luís Amaro generosamente vem integrando na BNP desde 1981.

 

Nascido em Aljustrel em 1923, Luís Amaro aprendeu sozinho, aos 12 anos, a escrever à máquina num cartório local onde prestava serviços («[…] a minha infância, em rigor, talvez o não fosse», declinaria numa entrevista de 2005 também evocativa do taedium vitae dos meninos sem brinquedos, da precoce sofreguidão pessoal por «tudo que cheirasse a letra impressa», do recuado sonho de ser jornalista em Lisboa, da matriz materna da sua sensibilidade literária, da sentida memória das turbas de mendigos nas terras onde viu luz!). Não tardou que saísse a público com a crónica «Alentejo» no semanário republicano Ala Esquerda ou que guardasse, da necrologia do Diário de Notícias, o conhecimento do fim da existência de um poeta chamado Fernando Pessoa (cujo nome então começara por estranhar e que viria a ser-lhe «alimento espiritual»).

Mudando-se para Beja aos 13 anos incompletos aprendeu no Diário do Alentejo a rever provas tendo colaborado, como cronista e compositor em verso, na imprensa local, nela travando conhecimento, para a vida inteira, com o poeta Mário Beirão (logo apercebido da sua «alma melindrosa»), com o romancista Manuel Ribeiro e com o jornalista Julião Quintinha. Sediado depois em Estremoz, aos 16 anos já secretariava a redação do semanário Brados do Alentejo, relacionava-se com o poeta e artista Azinhal Abelho e deixava-se tomar pela paixão bibliófila.


Em meados de 1941, apadrinhando-o Agostinho da Silva com quem se correspondia, Luís Amaro transitou, em definitivo, para Lisboa (marcada então pelo fascismo e pela  guerra mundial), ingressando na Livraria Portugália, ativa desde 1918 na Rua do Carmo 75, onde ele então se «dividia entre o balcão e o escritório» inaugurando, com a reedição de In Illo Tempore, de Trindade Coelho, o seu percurso de eminente revisor de provas literárias. Lugar de tertúlias e de passagem dos melhores vultos intelectuais, alargado, entretanto, à Portugália Editora (uma e outra centros culturais do País nos anos 40 e 50), nela militou por quase três décadas vindo a ser, juntamente com António Luís Moita, António Ramos Rosa, Raul de Carvalho e José Terra, cofundador das folhas de poesia Árvore, e colaborador de muitas outras revistas literárias entre as quais a Távola Redonda e a Seara Nova.


O seu denso e prolífico percurso funcional culminaria, em 1996, na Fundação Calouste Gulbenkian, na revista Colóquio-Letras, da qual foi, sucessivamente e por 25 anos, secretário de redação, diretor-adjunto e consultor editorial, em qualquer das atividades granjeando o unânime apreço da intelectualidade portuguesa e de além-fronteiras.

luis_amaro_capa02O seu apagamento e o zelo pela produção literária alheia (não só como editor literário de outros, mas também como devotado ensaísta e memorialista em catálogos, balanços bibliográficos, miscelâneas e obras completas) terá induzido a que descurasse a regularidade da sua própria expressão em livro só em 1975 republicando os 60 poemas primeiro dados a lume em 1949 com o título Dádiva, e então acrescentados de 35 «outros poemas» em coletânea designada por Diário Intimo. Também esta publicação permaneceria esgotada por longos anos até a editora & Etc a devolver a público em 2006 com alterações do autor e acrescentada de mais alguns versos, sendo de Luís Gaspar (um dos seus mais diletos discípulos) a capa, o retrato e a revisão. De 2011 é a recente reedição da mesma obra em que o autor intervém ainda e a Editora Licorne traz a público.


Herdeiro, entre outros, de Nobre, Duro, Pessoa, Régio, Pascoais ou Botto, Luís Amaro tem sobretudo considerado, na sua poética essencial, o malogro do mundo e o do seu «destino baço», em leitura lírica (dita «neo-romântica» por ele mesmo e, outrossim, filiada no segundo modernismo) que alia a extrema sensibilidade, a agudeza de espírito, a limpidez formal e uma estruturante essencialidade que levou Ramos Rosa a definir o seu canto como «poesia nua, obsessiva, emocionalmente transparente» e, ao seu autor, como «poeta da interioridade pura» que fez da «solidão uma habitação humana».

As 54 caixas que compõem a quase totalidade do seu espólio aguardam, na Biblioteca Nacional, os estudiosos dos últimos sessenta anos da vida literária portuguesa aqui se convocando, a propósito da reconhecida erudição do seu coletor, os testemunhos de José Augusto França: «Poucos intelectuais tanto intervieram na segunda metade de Novecentos como Luís Amaro», e o de Graça Moura que sempre o distinguiu como «a pessoa que mais sabe em Portugal sobre livros e escritores».