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Biblioteca Nacional de Portugal
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Portugal

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Aquisição pela BNP de cartas de Mariano Pina


bn-acpc-e-a-5867_1 A Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) adquiriu num leilão promovido pela Livraria de Luís Burnay cinco cartas do jornalista Mariano Pina (1860-1899) dirigidas ao seu amigo Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), criador do célebre “Zé Povinho”, datadas dos anos 1885 a 1890.

 

As missivas do então director de A Ilustração foram escritas em Paris, onde editava esta revista (de 1884 a 1892, perfazendo um total de 184 números e que chegou a ter uma tiragem próxima de 16 mil exemplares). Pina, progressista politicamente, pretendeu nesta publicação dar a conhecer a um público alargado um escol de colaboradores invejável, recorrendo também a profusa ilustração. Objectivo plenamente conseguido, pois nesta publicação periódica, inovadora do ponto de vista gráfico, bem ao gosto da época pelo luxo da imagem e também facilitadora da compreensão por gente menos alfabetizada, colaboraram, entre outros, Camilo, Cesário, Eça, António Nobre, Oliveira Martins e Teófilo Braga. O tom cosmopolita é dado, por exemplo, através de uma entrevista conduzida por Mariano Pina com

o apoio de Eça de Queirós a Émile Zola.

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Mariano Pina pertenceu a um grupo de intelectuais que se celebrizou, composto maioritariamente por pintores como Silva Porto, os irmãos Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro ou José Malhoa, designado por Mariano num artigo de jornal em 1881 pelo nome do café “Leão” - onde se costumavam reunir - transformado posteriormente em restaurante “Leão d’Ouro”, decorado nas suas paredes por estes artistas e localizado na Baixa lisboeta (actual Rua 1º de Dezembro). Este célebre grupo foi retratado para a posteridade por Mestre Columbano (1885), que já pintara Mariano Pina em 1883.

 

Nestas cartas agora compradas, que serão integradas no riquíssimo espólio dos irmãos Mariano e Augusto (1872-1938) Pina adquirido pela BN em 1987 (contendo 1060 documentos), fica patente a admiração votada pelo primeiro a Pinheiro Chagas (mau grado as desavenças deste com Eça de Queirós), bem como as imensas saudades de Lisboa, embora gostasse de viver em Paris e apreciasse o frutuoso convívio com outros portugueses do seu grupo artístico. Estes iam expondo no “Salon” a sua arte e Mariano descreve, enlevado, a Bordalo, a beleza dos quadros, embora nunca descure uma apreciação crítica rigorosa.bn-acpc-e-a-5865_3


Na última carta, datada do ano do Ultimatum, irado com a humilhação nacional, Mariano revolta-se perante a imposição de leis contrárias à liberdade de imprensa e informa o seu amigo Bordalo da publicação de um panfleto semanal intitulado Espectro, como forma de desagravo da situação criada pelo governo português. E desabafa – “Hoje somos perante a Europa mais do que um povo ridículo – somos um povo enlameado”.

 

Enriquece-se, assim, o acervo da BNP com mais esta correspondência de um promotor de empresas jornalísticas oitocentistas arrojadas e relevantes para a cultura nacional.