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herculanoNo ano do bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano (1810-1877), um dos maiores vultos do liberalismo oitocentista português, a Biblioteca Nacional de Portugal comprou no leilão da “Livraria Luís Burnay”, realizado a 19 de Junho de 2010, dois documentos autógrafos do insigne escritor - uma carta e uma declaração dirigidas aos veteranos editores e livreiros Bertrand.

Enriquece-se assim o acervo deste intelectual cuja grandeza moral se revelou na sistemática recusa de prebendas e outras honrarias, tão reclamadas por outros vencedores da guerra civil.

Um dos 7 500 “bravos do Mindelo”, combatente ao lado de D. Pedro IV durante as sangrentas lutas caseiras, e posteriormente mentor do seu neto D. Pedro V, o entusiasmo de Herculano com a morigeração dos costumes nacionais foi esmorecendo. Deputado em várias legislaturas, a sua progressiva desilusão herculano_carta1com a implantação do liberalismo conduziu-o a um outro tipo de exílio, desterrando-se numa quinta ribatejana em Vale de Lobos, perto de Santarém. Poeta e romancista consagrado, distinguiu-se ainda como bibliotecário. Destacou-se ainda com projectos editoriais do quilate de “O Panorama”.

Grande parte do espólio deste historiador cimeiro encontra-se na Biblioteca Municipal do Porto (Herculano foi ali bibliotecário desde o regresso do exílio em 1833 até à Revolução de Setembro ocorrida em 1836, tendo-se demitido por continuar a defender a Carta Constitucional de 1826). Participante na polémica que envolveu outros homens de letras coevos acerca da “propriedade literária”, Herculano escreveu vários textos acerca do que actualmente designamos por direitos de autor.

Estes originais agora obtidos pela BNP tratam exactamente da cedência de direitos autorais deste antigo director das bibliotecas reais da Ajuda e das Necessidades, entre 1829 e 1867, ao seu editor, no início do ano de 1860.herculano_carta1v

Na carta enviada a Bertrand, está patente o excelente relacionamento com o dono da livraria que acolhia uma tertúlia literária composta por outros divulgadores do romantismo cultural e literário e em que pontificava Herculano:

“Vi a carta que teve a bondade de me dar, e de que só me importava averiguar o resultado, porque do resto responde melhor o carácter de V. Exª que todos os mecanismos imagináveis.”

Na declaração, Alexandre Herculano transfere para a Bertrand os direitos de venda dos seus livros publicados até à data, ou seja, até ao fim de 1859, a troco de uma subvenção mensal.