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o Sopro sopra onde quer (2009)

Doação do Espólio de M. S. Lourenço à BNP

 

ms-lourenco-003Dia 27 de Maio de 2010, pelas 16h00, teve lugar na Sala do Conselho da Biblioteca Nacional de Portugal a cerimónia de assinatura do Termo de Doação do Espólio de M. S. Lourenço (1936-2009). Regista-se assim mais uma incorporação de fundos no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea (ACPC) da BNP.

Manuel António dos Santos Lourenço publicou a sua primeira obra literária, O Desequilibrista, em 1960, a que se seguiu, em 1962, O Doge, lançado sob o nome de Alexis-Christian Von Rätselhaft und Gribskov. Licenciou-se no ano seguinte com a tese A filosofia da matemática de Ludwig Wittgenstein e publicou Ode a Upsalaem em 1964, após o que abandonou Portugal por razões políticas.

 

Entre 1965 e 1968 foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo realizado os seus estudos pós-graduados em Oxford sob a orientação de Michael Dummett. Foi neste período que preparou a antologia O teorema de Gödel e a hipótese do contínuo (editada pela primeira vez em 1979) e uma tradução portuguesa das duas obras clássicas de Wittgenstein, Tratado lógico-filosófico e Investigações filosóficas (primeira edição em 1987). Em 1980 doutorou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde foi professor do Departamento de ms-lourenco-004Filosofia, com a dissertação Espontaneidade da razão: A analítica conceptual da refutação do empirismo na filosofia de Wittgenstein (1986). Até à apresentação desta tese vieram a lume mais três livros de poesia: Arte Combinatória (1971), Wytham Abbey (1974) e Pássaro Paradípsico (1979).

 

Foi Leitor de Português nas Universidades de Oxford (1968-1971) e da Califórnia (Santa Bárbara, 1972-1975), tendo leccionado depois (1976-1980) na Universidade do Estado de Indiana e mais tarde (1983-1984) na Universidade de Innsbruck. É no âmbito da sua passagem pela Áustria que desenvolveu as ideias subjacentes ao seu último livro de poemas, Nada Brahma, e aos ensaios com o título Os Degraus do Parnaso (prémio D. Dinis, da Casa de Mateus), obras que, tal como o seu livro didáctico A teoria clássica da dedução, saíram em 1991. Entre 1999 e 2004 presidiu à Sociedade Portuguesa de Filosofia. A sua actividade de ensino foi quase exclusivamente preenchida com a divulgação da Filosofia da Matemática e da Lógica, domínio em que os seus últimos livros foram Os elementos do programa de Hilbert (2004) e Acordar para a lógica matemática (2006). A partir do final dos anos 90, M.S. Lourenço reviu parte da obra através de ms-lourenco-005novas edições de O Doge (1998) e Os Degraus do Parnaso (2002), destacando-se a segunda edição ampliada da antologia em torno de Gödel e a compilação literária O Caminho dos Pisões, ambas publicadas no ano da sua morte.

 

O espólio de M. S. Lourenço generosamente doado pelos filhos do escritor à BNP, documenta sobretudo as últimas décadas do seu trabalho intelectual e ilustra bem como a sua obra multifacetada foi sendo construída sob a forma de uma reflexão sem fronteiras sobre a linguagem. O interesse, raro entre os filósofos portugueses, pela linguagem da Matemática e pela Lógica, a defesa da tese segundo a qual a Literatura é uma forma de Música, o cultivo da Tradução como modo de apreensão do sentido e de criação literária encontram-se bem testemunhados neste espólio.