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Cancioneiro Geral de Garcia de Resende A arte de trovar, que em todo tempo foi mui estimada…
DESTAQUE | 17 out. – 23 nov. '16 | Sala de Referência: Vitrine | Entrada Livre
Encontrava-se a Corte portuguesa, nesses anos de 1515 e 1516, quer em Lisboa quer em Almeirim, quando Garcia de Resende – talvez inspirado pelo Cancioneiro do reino vizinho de Castela (impresso em Valença, em 1514) – meteu mãos à obra, ordenando e emendando a impressão de um Cancioneiro Geral de Portugal.
Garcia de Resende – fidalgo da casa del Rei, escrivão da fazenda do príncipe D. João, a quem a obra é dedicada e cujas armas ilustram a última das folhas preliminares –, para além de compilador desta obra, encontra-se também nela representado enquanto escritor e poeta. É assim que, com a autoridade de quem compõe, informa no prólogo «que a natural condição dos portugueses é nunca escreverem coisa que façam», perdendo-se as memórias que poderiam rivalizar com as «dos feitos de Roma, Troia e todas outras antigas crónicas e histórias». Mas não é só na obra épica que os portugueses são parcos e modestos. Pelas mesmas razões «muitas coisas de folgar e gentilezas são perdidas sem haver delas notícia. No qual conto entra a arte de trovar, que em todo tempo foi mui estimada»…
Pelos Romances e trovas fica-se a conhecer muita da nossa história, diz-nos ainda o poeta, argumentando que a mesma poesia serve afinal de castigo àqueles que fogem às normas (pois eram caricaturados nessa poesia de folgar, com destaque no próprio índice). Na obra apresentam-se composições produzidas entre 1449 e 1516, por aproximadamente três centenas de compositores – nem todos dignos do nome de poeta. Mas é graças a esta obra que hoje conhecemos alguma da melhor poesia lírica do país, produzida na época.
Os exemplares do Cancioneiro Geral, com data de impressão de 1516 – cuja composição teria acabado a 28 de setembro, nos prelos de Hermão de Campos, alemão, bombardeiro e imprimidor (capacidade que lhe advinha porque controlava a arte da fundição de metais) segundo o cólofon – apresentam, numa grande parte do corpo da obra, folhas compostas e impressas em momentos distintos, por razões que a razão ainda desconhece.
As variantes de impressão determinam-se quer pela composição diferenciada (o partir das linhas em momentos de escrita diferentes), quer no uso de Alfabetos com desenhos diferentes, quer pela introdução ou ausência de tipos (como o do sinal de parágrafo), quer ainda pela mudança registada na ortografia de palavras. De quase todas essas variantes tem a coleção da Biblioteca Nacional de Portugal exemplares originais: optou-se, com consciência, por colocar alguns fac-símiles, em vez de apresentar na exposição todos os originais, para facilitar eventuais investigações. Se o observador prestar atenção as duas primeiras folhas expostas (as que registam as versões «Gorge» e «Iorje» no começo da 11.ª linha) facilmente encontrará todas as variantes assinaladas.
Pelas suas caraterísticas (em especial nas poesias de folgar, mas também naquelas que adornavam façanhas humanas de santidade – chegando algumas a ser consideradas heréticas – e nas que envolviam convívio de cristãos com judeus), a obra não escapou ao «machado» da Inquisição. São muitos os cortes ordenados (uns cortando o poema na sua totalidade, outros fazendo apenas censuras parcelares). João José Alves Dias
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