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Folha de sala

 

 

 

 


Entre páginas, entre vidas: marcadores de livros

Coleção de Lúcio Alcântara

MOSTRA | 10 fev. - 23 abr. '16 | Mezzanine | Entrada livre


Não sei precisar quando, nem como, iniciei minha coleção de marcadores de livro. A atração pelo colecionismo terá sido despertada pela proliferação de mercadores, que passaram a ser difundidos amplamente junto com livros e expostos à venda em livrarias e lojas de museus com variada motivação temática. Estampam monumentos, ícones da literatura e das artes em geral, mensagens comemorativas, religiosas e de auto-ajuda. Inseridos nos livros, acompanham os novos lançamentos promovendo autores, editores e livrarias. Artesanais ou industrializados, são confeccionados a partir dos mais variados materiais, papel, metal, pano, fibras vegetais, em tamanhos e formatos diversos que os tornam às vezes decorativos, mas pouco funcionais, embora muito criativos. Os mais antigos costumavam trazer mensagens comerciais de negócios e produtos, relacionados ou não ao mundo do livro. De outra espécie, guardei na memória as fitas estreitas coloridas, de seda, presas no dorso dos livros religiosos.

Antes que aparecessem os marcadores como hoje os conhecemos, produzidos industrialmente ou elaborados de forma artesanal, o leitor utilizava o que estivesse à mão para assinalar o trecho cuja leitura interrompera. Ainda agora, sabem disso os frequentadores de sebo, é frequente encontrar-se entre as páginas de livros usados os mais variados objetos. Santinhos, envelopes, cartões de diversa natureza, fotografias, selos, cartas, notas fiscais, flores secas, bilhetes de passagens e infindáveis outras coisas. Deitados em meio às páginas, como uma pausa provocada por um motivo doméstico trivial, fadiga ou intervalo para cismar, ganham o mundo, carregando em sua simplicidade histórias que olhos estranhos não advinham.

As coleções são constituídas graças à diligência obsessiva de seus titulares que caçam preciosidades para constituírem seus acervos. Ainda me vejo ansioso, meio perdido no labirinto de uma medina apinhada de gente, no Marrocos, para com a cumplicidade da minha mulher, Maria Beatriz, adquirir um lindo marcador em uma lojinha empoeirada repleta de produtos atendida por um descansado vendedor. Claro, há formas mais suaves de acrescer o cabedal. Refiro-me às dadivosas contribuições de familiares e amigos, fundadores de um patrimônio afetivo do qual nunca irei me desfazer.

Abriu-se há algum tempo uma discussão sobre o futuro do livro diante do avanço da tecnologia digital. Com o formato de hoje, estaria condenado a desaparecer. O debate continua, e o livro também. O mais provável é que as duas versões, eletrônica e impressa, coexistam. Como a pintura e a fotografia, o cinema e a televisão convivem até hoje sem que a aparição de uma modalidade de expressão implicasse na morte da outra.

A sobrevivência do livro significa a permanência do marcador como um simples e útil acessório da leitura. Independentemente disso, tenho a certeza que nenhuma tecnologia será capaz de me fazer desistir de minha coleção.

Lúcio Alcântara