agenda 2007; pormenor da mostra
Baltazar Lopes (mais à esq.); Manuel Lopes (mais à direita)
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De 4 a 27 de Junho de 2007 na Sala de Referência | Entrada livre

MOSTRA BIBLIOGRÁFICA
Baltasar Lopes, 1907-1989 e Manuel Lopes, 1907-2005

Baltasar Lopes (da Silva)

(n. S. Nicolau, Cabo Verde, 23/4/1907, m. 28/5/1989), Licenciado pela U. Lisboa (Direito, 1928, Românicas, 1930), distinguido com o Doutoramento Honoris Causa pela U. Lisboa (1981) e a Ordem do Infante pelo Estado Português (1988), foi professor e Reitor do Liceu de Mindelo durante décadas, além de advogado de grande perfil cívico, empenhado em causas dos mais desfavorecidos.

Manuel Santos-Lopes

(n. S. Vicente, Cabo Verde, 23/12/1907, m. 25/1/2005, residiu em Coimbra entre 1919 e 1923, autodidacta diligente na leitura dos clássicos da literatura europeia, foi depois funcionário da Cable and Wireless e agricultor em Santo Antão, reingressando na mesma Companhia, destacado no Faial (1944-1959) e Carcavelos (1959-1968), vindo a fixar residência definitiva em Lisboa.

Dois percursos de vida muito distintos, cada um modelando intensamente os seus protagonismos no movimento intelectual juvenil centrado no Mindelo, nos começos da década de 1930, e que viria a realizar a sua expressão na afamada revista Claridade surgida em Março de 1936 (de publicação intermitente, compreende nove números distribuídos por três ciclos de vida: Nos. 1-3/1936-1937; Nos. 4-7/1947-1949; Nos. 8-9/1958-1960). Revista primeiramente literária, mas também vocacionada para outros domínios culturais, as primeiras imagens criativas que nela imprimem aqueles autores recortam de maneira incisiva um ideário duplamente inovador, de modernidade literária em sentido amplo e de afirmação literária nacional.

Formado na escola de José Leite de Vasconcelos e excelente conhecedor das literaturas europeias, Baltasar Lopes dedicou a escrita a uma espécie de magistério aberto ao reconhecimento da realidade das ilhas. Nas suas narrativas, Contos (Os Trabalhos e os Dias, Linda-a-Velha, ALAC, 1987) e Romance (Chiquinho, Lisboa, Vega, 2006), predomina a representação da identidade cabo-verdiana de valor referencial e simbólico, étnico e sócio-cultural, no geral impregnada do sentido da militância cívica de intelectual generoso. Trabalhos de campo de recolha de formas tradicionais compõem a outra face deste intelectual polígrafo, fornecendo a base material do ensaio linguístico e da Monografia-Tese (O Dialecto Crioulo de Cabo Verde, Lisboa, IN-CM, 1984), inscrevendo em filigrana as lições do Mestre, quer no estudo da língua em que o crioulo se realiza, quer na sua representação identitária.

Com o nome de Osvaldo Alcântara encobre B. Lopes o outro lado de uma muito rica personalidade, na poesia (Cântico da Manhã Futura, Praia, Banco de Cabo Verde, 1986), onde uma escrita de grande expurgo poético e refinado humanismo exprime, por diligência “filosófica”, quer indagadora, quer assertiva, a personalidade do homem cabo-verdiano ávido de liberdade e independência.

Em Manuel Lopes predomina em absoluto a preocupação social, logo revelada em escritos de juventude (v.g., “A Mocidade Caboverdiana”, Notícias de Cabo Verde, Mindelo, 1931). Os tópicos literários tardios (“Reflexões sobre a literatura cabo-verdiana ou a literatura nos meios pequenos”, Colóquios Cabo-Verdianos, Lisboa, JIU, 1959) e o lastro teórico de “As Férias de Eduardinho” (1943) (Galo Cantou na Baía, Lisboa, Edições 70, 1984) definem os limites do realismo incisivo que as experiência do agricultor enriquece na representação de universos em crise profunda. As secas catastróficas e a inactividade do porto de Mindelo fornecem os motivos dos romances rurais (Chuva Braba, Lisboa, Caminho, 1997, e Os Flagelados do Vento Leste, Lisboa, Vega, 1991) e de parte da poesia (Falucho Ancorado, Lisboa, Cosmos, 1997), enquanto a poesia de temática urbana problematiza as diversas faces do dilema entre “partir-emigrar” e “ficar”, sempre poeticamente valorizado pela opção “ficar” no aconchego das ilhas.

Mas M. Lopes, na vida real, foi uma personagem que adicionou o dilema à contradição, tendo de partir sem querer, decidindo “ficar” sem poder. Com efeito, mau grado a sua longa situação de diáspora (sem ida a Cabo Verde durante décadas), quase toda a sua obra se centra no eixo das ilhas S. Vicente - Santo Antão, encenando uma escrita de duplo sentido dirigido à pátria ausente, de uma convocação que o torna presente nela, ou de gesto de resgate que a faz reviver na imaginação dele.

Alberto Carvalho


Horário de visita à Exposição: Dias úteis: 10h - 19h
Sábados: 10h -17h
Encerra domingos e feriados